Com uma história marcada pela escravidão e pela exclusão de negros e negras das instituições educacionais, o brasil ainda carrega as marcas desse passado. As escolas e universidades foram, por muito tempo, espaços negados à população negra, ou que foram encontradas em profundas desigualdades que perduram até hoje. É nesse contexto que o conceito de racismo estrutural revela o seu peso: trata-se de um sistema de desigualdades enraizado nas relações sociais e que limita oportunidades a partir de estruturas de poder historicamente condicionantes.
Para entender mais sobre essa questão, conversamos com a professora Janaiky Pereira de Almeida, docente do departamento de serviço social da UFRN e especialista em feminismo negro, racismo e relações de gênero. A professora Janaiky explica que o racismo estrutural é mais do que um comportamento isolado de indivíduos; ele está enraizado nas relações sociais que organizam a nossa sociedade: “Nós vivemos séculos de escravidão e isso tem repercussões em todos os âmbitos, e educação não tá por fora disso, as pessoas negras não tinham acesso à educação, eram proibidos de frequentar a escola. então, essa dimensão foi se perpetuando durante muito tempo”
No campo histórico, as diferenças econômicas e sociais foram obstáculos importantes para o acesso da população negra à educação. Isso evidencia que, além do racismo, as desigualdades econômicas também desempenham um papel essencial na limitação das oportunidades educacionais.
Segundo a professora, “a dificuldade do acesso à educação está totalmente vinculada à dimensão econômica. Então, as duas coisas estão interligadas, não tem como fazer análise apenas dos desafios das pessoas negras no acesso à educação, só do ponto ético racial sem reconhecer as relações sociais econômicas também, e também sem reconhecer as desigualdades mesmo dentro da população negra naquilo que se refere a homens e mulheres negras. Assim, os principais obstáculos históricos foram as condições objetivas de vida, a população negra sempre precisou trabalhar, sempre precisou o seu tempo era um tempo dedicado ao trabalho e educação sempre ficou em segundo plano.”
Nos últimos anos, as políticas de ação afirmativa, como as cotas raciais, têm sido uma tentativa de corrigir essa desigualdade histórica. segundo a professora Janaiky, essas políticas trouxeram um impacto positivo: “eu considero que as políticas de ação afirmativa tiveram um impacto positivo na redução das desigualdades educacionais. É perceptível pelo maior acesso da população negra ao ensino superior. Isso faz com que as pessoas comecem a pautar esse tema dentro da universidade, questionando as referências bibliográficas e o porquê de não se verem pessoas negras em determinados cursos”.
Contudo, para além das cotas, a professora Janaiky sugere que outras medidas são essenciais para combater o racismo nas escolas e universidades, especialmente no que se refere à permanência desses estudantes. “Além das cotas a gente precisa de uma mudança na organização dos projetos institucionais, dos projetos pedagógicos, seja de escola em todos os níveis, seja da universidade. Então, não é apenas garantir inserção, mas quando a gente fala de permanência, a permanência passa pela assistência estudantil, mas não apenas, significa estar em um ambiente em que você vá sentir seguro, que não sofra racismo”.
Isso é uma discussão mais ampla de mudança de como se estabelece essas relações em todas as disciplinas, em todas as matérias e não apenas na matéria de história, por exemplo ou da sociologia, então a gente precisa dialogar sobre isso de maneira séria nos projetos pedagógicos, nos projetos institucionais para que de fato a gente possa combater cada vez mais o racismo no ambiente escolar e universitário”, explica.
Por fim, a professora lembra que a transformação do sistema educacional para torná-lo mais inclusivo deve ir além dos espaços escolares e universitários envolvendo outras políticas públicas. “Para que a escola seja mais inclusiva, a gente precisa de acessibilidade nos transportes, boa alimentação e acesso à saúde, porque ninguém aprende com fome”, afirma.
Isso reforça a importância de uma articulação entre a educação e outras áreas essenciais para garantir que a universidade seja realmente um espaço de equidade e inclusão para todos.
Esse foi o primeiro episódio da nossa série especial sobre o novembro negro. Nas próximas edições, vamos continuar aprofundando sobre o racismo e como ele impacta a educação e a sociedade.
Fonte: ADURN Sindicato