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Artigo – A Morte pede passagem

Wellington Duarte
Presidente do PROIFES-Federação

Chacina no Rio reacende discursos extremistas e evidencia a banalização da morte como ferramenta de poder e manipulação política.

A extrema-direita fascista ou reacionária, que estava carente de temas, já que suas investidas para proteger o Boca Podre e sua corja de golpistas, falhara, assim como as ações do deputado federal Eduardo Bolsonaro, que trabalhou arduamente para que os EUA intervissem no Brasil, acharam um bote salva-vidas político. E veio da MORTE.

Parece muito óbvio que os adoradores da MORTE estejam no segmento da extrema-direita, mas é fato que o discurso da MORTE encontra eco em vários segmentos da população exatamente porque o olhar sobre o crime, se for brutal, desperta nossos instintos mais primitivos. E os que sofrem a ação dos criminosos, a esmagadora maioria pobre, vivem uma experiência cotidiana entre os que controlam suas vidas pelo lado do crime, e as que oprimem suas vidas, pelo lado do Estado.

E as hienas fascistas já estão em polvorosa e exaltaram a chacina ocorrida na cidade do Rio de Janeiro, mais especificamente nos complexos da Penha e Alemão, onde se espremem 110 mil pessoas, o que é relativamente pouco, quando olhamos a cidade do Rio de Janeiro, que tem 6,7 milhões de almas, ou seja, 1,6%. É uma condição de vida deprimente e um local ideal para os adoradores da MORTE proliferarem, quer pela via do terror, quer pela via da repressão, quer pela via da religião fatalista.

Os políticos ligados às forças de segurança, até mesmo devido a sua formação, tem a tendência em entender o combate ao crime do ponto de vista militar, portanto, abater o inimigo diminui o poder dele. Pelo menos é o deixam transparecer quando falam de em crimes e violência. BANDIDO BOM É BANDIDO MORTO!

Aliás essa frase, disseminada por José Guilherme Godinho Sivuca Ferreira, o “Sivuca” (1930-2021), delegado da Polícia Civil, um dos que integravam Escuderia Le Cocq, que deu origem, na década de 60, do Esquadrão da Morte e que, nas eleições de 1986, para deputado estadual, espalhou esse bordão como peça de campanha, quando candidato pelo extinto Partido da Frente Liberal (PFL), tendo sido eleito (e depois reeleito).

A frase, pois, nasceu de um elemento das forças de segurança, partidário de ações criminosas e tornou-se lema da extrema-direita e das “pessoas de bem”, assim como de vastas camadas da população, mesmo entre os progressistas, que defendem essa mesma “política”, mas em ambiente fechado e longe dos fóruns políticos. O instinto primitivo fala alto quando se é vítima ou teve alguém próximo como vítima ou se foi influenciado por notícias impactantes sobre crimes hediondos.

Claudio Castro, um católico reacionário, promotor de mais essa chacina em que os mortos foram a expressão mais clara de como o Estado e seus aparelhos de repressão, quando comandados pela extrema-direita, se comporta como uma força militar guerreira, cujo objetivo, aos olhos de muitos é dar uma forcinha para sua campanha ao Senado, em 2026. Não foi à toa que, enquanto limpava o sangue dos corpos dos mortos, ele foi a uma missa, proferida por um conhecido padre de extrema-direita e lá foi ovacionado e até cantou (que poético!) e certamente tem visto as pesquisas que lhe deu um fôlego eleitoral renovado.

Rapidamente a extrema-direita se uniu em torno dessa temática e no parlamento os homúnculos deliraram com discursos nos púlpitos, sendo que muitos viram a figura sinistra do Ceifador por trás dessas pessoas. O regozijo pela morte de 117 “soldados do Comando Vermelho” foi contrabalançado pelo discurso fanatizado de que mortos mesmo foram os 4 agentes de segurança. O resto foi “devidamente abatido”.

Castro, ao movimentar sua máquina da morte, deu combustível para que o velho discurso do “bandido bom é bandido morto” volte a pipocar nas redes sociais e o Ceifador, que está sempre à espreita nos recônditos mais sombrios das cidades, especialmente nas periferias, teve mais uma colheita farta.

Qual será a próxima?

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